A exportação de animais vivos aparenta ter apenas vantagens económicas para Portugal. Contudo, este é um negócio pouco transparente, com custos que se estendem muito além do setor pecuário, e ao qual se opõem alguns profissionais - os estivadores em primeiro lugar, mas também trabalhadores do próprio setor.
Este negócio começa por potenciar custos na área da saúde. Um crescente número de estudos comprova que a produção de animais de pecuária tem drásticas consequências na saúde humana, como a propagação de zoonoses, infeções bacterianas, ou doenças cancerígenas. Os custos são ainda maiores se considerarmos que os efeitos na saúde não se restringem ao local de produção – resultante de poluição com impacto em larga escala (por exemplo, na atmosfera). Os impactos na saúde não se restringem também à produção de animais, pois há transmissão de doenças por contacto ou consumo dos animais.
Para além dos impactos na saúde, o aumento da produção pecuária tem também inúmeros impactos negativos no ambiente com custos acrescidos para as sociedades, por via de impostos indiretos empregues na preservação de habitats. Para além disso, há um grande risco associado ao investimento na agropecuária por diversos motivos.
A agropecuária está altamente dependente das condições ambientais para a criação sustentável dos animais. Mais ainda, se considerarmos as alterações climáticas e as suas consequências na composição do solo, na disponibilidade e qualidade da água, no risco de incêndios, etc. O risco é ainda maior quando o destino dos animais é a exportação, pois tornamo-nos dependentes de fatores conjunturais do país importador. Este é também um investimento de risco porque o consumo de carne é oscilante, tendo aumentado globalmente nos últimos anos, mas decrescido em alguns países, face à preocupação de muitos consumidores com questões ambientais, dos direitos dos animais, etc.
A nível europeu, o transporte de animais para países do Norte de África e do Médio Oriente representa apenas uma pequena percentagem do lucro das exportações feitas para estas regiões (2,3-5% para Argélia, Marrocos, Egipto e Israel em 2015). Em contrapartida, a União Europeia tem dado orientações expressas – através das suas instituições e da sua legislação – no sentido dos países diminuírem a sua pegada de carbono, a promoverem o crescimento sustentável, bem como melhorarem as condições de transporte de animais dentro e fora da União Europeia. Investir num dos principais setores poluentes como a agropecuáriae ao mesmo tempo, criar medidas para diminuir as emissões de gases de estufa ou o gasto energético, é um contrassenso e um desperdício de fundos financeiros. Mais ainda, se considerarmos que os maiores impactos ambientais serão sentidos no país de origem (Portugal).
Por outro lado, não faz sentido criar medidas para combater a fome e o desperdício de alimentos e, simultaneamente, transportar animais vivos, uma vez que o transporte de animais vivos em condições tão extremas durante vários dias leva, inevitavelmente, à morte de animais saudáveis.
Por todos estes motivos, o transporte de animais vivos não é uma cadeia de valor para a economia nacional, mas pelo contrário, acarreta um custo elevado no presente e no futuro para todos.